ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA DESTINADA A DEBATER A
QUESTÃO DA ABERTURA DO COMÉRCIO AOS DOMINGOS E FERIADOS EM PORTO ALEGRE
SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM
27-9-2002.
Aos vinte e sete dias do mês de setembro de dois mil
e dois, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara
Municipal de Porto Alegre. Às quatorze horas e trinta e dois minutos, o
Vereador José Fortunati, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre,
informou que a presente Audiência Pública foi requerida pela Associação
Empresarial Nova Azenha ANA, nos termos do Processo nº 2794/02, e destina-se
a debater alternativas para restabelecer a competência do Município para
legislar acerca do horário de abertura do comércio na Cidade, face à decisão do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, que suspendeu a vigência da
Lei Municipal nº 7.109/92, o que viabilizou a abertura do comércio aos domingos
em Porto Alegre. Compuseram a Mesa: o Vereador José Fortunati, Presidente da
Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Pedro Aurélio Zabaleta, Presidente
da Associação Empresarial Nova Azenha ANA. Também, o Senhor Presidente
prestou esclarecimentos acerca das normas a serem observadas durante os
trabalhos da presente Audiência Pública, especialmente quanto ao tempo a ser
concedido aos Oradores para manifestações sobre o assunto, quanto à necessidade
de observância da legislação eleitoral, no que tange à vedação da utilização de
material de propaganda eleitoral durante as manifestações feitas da Tribuna e
quanto à necessidade de que, durante os pronunciamentos, não sejam emitidas
opiniões que possam ser consideradas propaganda eleitoral irregular, uma vez
que a presente Audiência Pública será transmitida pela TV Câmara. Na ocasião,
face Questão de Ordem formulada pelo Vereador Isaac Ainhorn, o Senhor
Presidente prestou informações sobre os trabalhos da presente Audiência
Pública. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos
representantes de entidades presentes nesta Audiência Pública, na forma que segue.
O Senhor Pedro Aurélio Zabaleta, Presidente da Associação Empresarial Nova
Azenha ANA, manifestou-se sobre a problemática da abertura do comércio aos
domingos e feriados em Porto Alegre, registrando o posicionamento dessa
entidade sobre a questão e defendendo a priorização dos debates alusivos ao
tema junto aos empresários da Cidade. A Senhora Esther Machado, Presidenta do
Sindicato dos Empregados do Comércio do Rio Grande do Sul SINDEC RS, externou
seu posicionamento contrário à abertura do comércio aos domingos, denunciando a
ocorrência de diversas demissões por justa causa de comerciários que se
opuseram a trabalhar nesse dia da semana e citando empresas que estão adotando
essas medidas. O Senhor Homero Saraiva discorreu sobre o funcionamento dos
pequenos empreendimentos comerciais existentes na Cidade de Porto Alegre e no
Estado do Rio Grande do Sul, ressaltando a importância da atividade desses
comerciantes para o desenvolvimento da economia e comparando essas atividades
com aquelas exercidas pelos grandes empresários comerciais. A seguir, o Vereador
José Fortunati convidou o Vereador Carlos Alberto Garcia a assumir a direção
dos trabalhos e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Oradores inscritos.
O Senhor Ademar Ortiz, Presidente da Associação dos Mercados, Minimercados e
Fruteiras de Porto Alegre, ao registrar seu posicionamento contrário à abertura
do comércio aos domingos, informou que os pequenos comerciantes estão sofrendo
prejuízos com o funcionamento do comércio em geral nesse dia e defendendo a
edição de leis que normatizem a questão, de modo a garantir justiça nas
relações de mercado. A Senhora Amália Leal Medeiros, representante das Centrais
de Abastecimento do Rio Grande do Sul CEASA, declarou ser contrária à
abertura do comércio aos domingos, salientando os efeitos que essa prática
acarretará nos negócios dos pequenos comerciantes que exercem seu trabalho na
Cidade de Porto Alegre. A Senhora Silvana Rosa denunciou agressões físicas e morais
sofridas por Sua Senhoria, praticadas por seu empregador, em função de sua
oposição em trabalhar aos domingos e feriados, informando ter registrado
ocorrência na Polícia Civil em função disso e manifestando sua indignação
quanto ao fato. A Senhora Nara Schnarndorf, representante da Comissão dos
Lojistas do Centro Comercial João Pessoa, asseverou que a abertura do comércio
aos domingos não gerará mais empregos nem maiores lucros para os pequenos
comerciantes, face às dificuldades econômicas enfrentadas pela população. Nesse
sentido, defendeu a realização de uma consulta entre os pequenos empresários
sobre a questão. Na oportunidade, face Questões de Ordem formuladas pelo
Vereador Nereu DAvila, o Senhor Presidente prestou esclarecimentos sobre os
trabalhos da presente Audiência Pública e, após, foi dada continuidade às
manifestações dos Oradores inscritos. A Senhora Helena Maria Krausburg Vargas,
representante da Krausburg Vargas Limitada, analisou dados alusivos aos
prováveis efeitos que a abertura do comércio aos domingos acarretará nos
estabelecimentos comerciais de pequeno porte, especialmente aqueles localizados
nos bairros mais periféricos da Cidade, manifestando sua contrariedade a essa
proposta. A Senhora Soraya Frank, representante do Sindicato dos Professores do
Estado do Rio Grande do Sul - SINPRO, abordou aspectos referentes aos
potenciais prejuízos às relações familiares dos comerciários, ocasionada pela
determinação do trabalho aos domingos e feriados, especialmente em relação aos
filhos desses trabalhadores, que serão privados da companhia de seus pais em um
dia tradicionalmente dedicado ao lazer. A Senhora Anadir Alba, representante da
Associação Comercial da Tristeza, relatou a situação enfrentada pelos pequenos
empresários que exercem suas atividades no Bairro Tristeza, solicitando o apoio
dos Senhores Vereadores e da comunidade em geral para a adoção de medidas que
impeçam a abertura indiscriminada do comércio aos domingos. O Senhor Guiomar
Vidor, Presidente da Federação dos Trabalhadores do Comércio do Estado do Rio
Grande do Sul - FECOSUL, criticou decisão liminar prolatada pelo Desembargador
Clarindo Favretto, a qual sustou os efeitos da Lei Municipal n° 7.109/92, o que
viabilizou a abertura do comércio aos domingos na Cidade de Porto Alegre. A
seguir, o Senhor Presidente prestou esclarecimentos sobre os trabalhos da
presente Audiência Pública e, após, foi dada continuidade às manifestações dos
Oradores inscritos. O Vereador João Antonio Dib teceu considerações sobre os
debates realizados pela Câmara Municipal de Porto Alegre ao longo do tempo, a
respeito de propostas que previam a abertura do comércio aos domingos,
reportando-se à decisão em caráter liminar prolatada pelo Desembargador
Clarindo Favretto, a qual sustou os efeitos da Lei Municipal n° 7.109/92. Na
oportunidade, o Senhor Presidente registrou a presença da Deputada Estadual
Maria do Rosário e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Oradores
inscritos. O Vereador Raul Carrion mencionou a ausência, na presente Audiência
Pública, de entidades que defendem a proposta de abertura do comércio aos
domingos em Porto Alegre, destacando aspectos da legislação que garante a
abertura de estabelecimentos comerciais aos domingos, mediante determinadas
condições e justa contraprestação aos comerciários. O Senhor Valdir Bronzatto,
representante das Associações Empresariais de Bairro - ACAPA, externou sua
preocupação quanto à questão da abertura do comércio aos domingos em Porto
Alegre, especialmente no que tange à presença de grandes grupos comerciais
estrangeiros no mercado porto-alegrense e os efeitos que a atuação desses
grupos está acarretando nas pequenas empresas de origem local. O Vereador
Sebastião Melo destacou a importância da presente Audiência Pública para o
debate sobre a problemática da abertura do comércio aos domingos em Porto Alegre,
salientando que esse assunto tem sido constantemente abordado durante as
Sessões da Câmara Municipal de Porto Alegre e manifestando suas impressões
sobre o assunto. O Vereador Isaac Ainhorn posicionou-se favoravelmente à abertura
do comércio aos domingos, questionando as afirmativas de que essa medida não
iria gerar novas vagas de emprego. Também, referiu-se às denúncias hoje
apresentadas pela Senhora Silvana Rosa, alegando que a legislação municipal atualmente
em vigor permite a cassação de alvará dos estabelecimentos que pratiquem atos
de discriminação. O Senhor Paulo Valmir Vargas e Silva, contrapondo-se à
abertura do comércio aos domingos, analisou dados referentes ao desempenho da
União Gaúcha de Supermercados Limitada - UNISUPER, principalmente no que se
refere à geração de empregos e ao maior poder de negociação com fornecedores,
decorrente da união dos pequenos e médios comerciantes do setor supermercadista
da Cidade. O Vereador Estilac Xavier divergiu do pronunciamento anteriormente
formulado pelo Vereador Isaac Ainhorn, ressaltando a relevância do pequeno
comércio como fator de redistribuição de renda e defendendo a idéia de que a
abertura do comércio aos domingos e feriados aumentará a concentração de renda
dos grandes conglomerados comerciais. O Senhor Mauro Roberto Pinheiro
manifestou-se contrariamente à suspensão da vigência da Lei Municipal nº
7.109/92, que regulamenta a abertura do comércio aos domingos, sustentando que
as pequenas empresas de Porto Alegre serão prejudicadas com essa medida, uma
vez que, segundo Sua Senhoria, a concorrência com os grandes empreendimentos
comerciais é desproporcional. O Vereador Nereu DAvila destacou que mantém
posição contrária à abertura do comércio aos domingos. Nesse sentido,
justificou a necessidade de que sejam discutidos os argumentos econômicos dessa
matéria, comentando a importância dos pequenos e médios comerciantes na geração
de novos postos de trabalho na Cidade de Porto Alegre. O Senhor Luís Fernando
Missel, ex-proprietário de estabelecimento comercial, analisou a questão da
abertura do comércio aos domingos, prevendo conseqüências danosas à saúde financeira
dos estabelecimentos de pequeno e médio porte. Também, defendeu a criação de
regramento para a atuação de empresas multinacionais do ramo comercial no
Brasil. Na ocasião, o Vereador João Antonio Dib, manifestou-se sobre os
trabalhos da presente Audiência Pública. Às dezesseis horas e quarenta minutos,
nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente declarou encerrados os
trabalhos. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores José Fortunati e
Carlos Alberto Garcia. Do que eu, José Fortunati, Presidente da Câmara
Municipal de Porto Alegre, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após
lida e aprovada, será assinada pelo Senhor 1° Secretário e por mim.
O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): Estão abertos os trabalhos da presente
Audiência Pública, conforme Processo n.º 2.794/02, visando debater alternativas
para restabelecer a competência do Município para legislar acerca do horário de
funcionamento da abertura do comércio, em face de decisão do Tribunal de
Justiça, que fulminou como inconstitucional a Lei n.º 7.109/92, ainda que em
decisão não-definitiva, a qual permite a abertura do comércio aos domingos
mediante condições.
Esta
Audiência Pública é embasada na Lei Complementar n.º 382, que regulamenta o
artigo 103 da Lei Orgânica do Município de Porto Alegre.
Faz
parte da Mesa o Presidente da Associação Empresarial Nova Azenha Sr. Pedro
Aurélio Zabaleta, requerente desta Audiência Pública.
Devo
esclarecer que tentaremos, da forma mais objetiva e democrática possível,
realizar este debate. Debate da maior importância para a cidade de Porto Alegre
sobre a abertura do comércio aos domingos.
Só
desejo fazer algumas observações. Nós teremos, em primeiro lugar, a
participação na tribuna do Presidente da Associação Empresarial Nova Azenha,
como requerente desta Audiência Pública, Sr. Pedro Aurélio Zabaleta, que terá o
prazo de dez minutos para fazer as colocações iniciais; depois, utilizarão a
tribuna um a favor e um contra a posição, enquanto tivermos pessoas inscritas
nessas condições, por cinco minutos cada um, para colocar o seu posicionamento.
O SR. ISAAC AINHORN (Questão de Ordem): Sr. Presidente, eu gostaria do
esclarecimento de V. Ex.ª. Todos nós temos conhecimento da posição do Sr.
Aurélio Zabaleta em relação à abertura do comércio aos domingos. Eu pergunto:
sobre os que defendem a abertura do comércio aos domingos, se existe já designada
nessa Audiência alguma pessoa que, a exemplo do Sr. Zabaleta, também
participará desse processo? Sou grato a V. Ex.ª.
O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): Ver. Isaac Ainhorn, nós estamos numa
Audiência Pública solicitada pela Associação Nova Azenha. Então, por isso a
diferenciação que se faz em tempo inicial. A partir das colocações feitas pelo
Sr. Zabaleta, representando o requerente desta Audiência Pública, nós abriremos
espaços para as inscrições já feitas, e outras que poderão ainda ser feitas, de
forma tal a contemplarmos posições diversas ao longo da tarde, até que isso,
naturalmente, se esgote. O que quero dizer com isso: se tivermos, como temos,
no momento, inscrições a menor a favor, naturalmente que, terminadas essas
inscrições a favor, as inscrições contrárias à abertura acabarão utilizando a
tribuna até o final das inscrições. Então, é um processo absolutamente
democrático, que vai permitir que as pessoas possam utilizar a tribuna e
conseqüentemente fazer o seu posicionamento.
Mas
ainda do ponto de vista dos esclarecimentos, que me parecem fundamentais: Como
todos estão percebendo, nós teremos a cobertura da TV Câmara, e isso impõe para
esta Casa um adicional que é a observância da Legislação Eleitoral, coisa que
esta Casa vem realizando desde o início do processo eleitoral. O que eu desejo
dizer com isso? E chamo especial atenção de todas as pessoas devidamente
inscritas: as pessoas, quando utilizarem a tribuna não poderão utilizar
qualquer decalco, qualquer adesivo que faça claramente campanha eleitoral. Isso
não significa a campanha que o Sindicato dos Comerciários está realizando, e
que outras entidades estão realizando sobre a abertura ou não do comércio aos
domingos, estou falando do processo eleitoral, nenhuma pessoa poderá utilizar a
tribuna com adesivo de candidatos, seja de Deputado Estadual, Deputado Federal,
Senador, Presidente ou Governador; essa é a primeira observação. A segunda
observação é que, se o orador que utilizar a tribuna fizer, de uma forma clara,
propaganda eleitoral para qualquer um dos candidatos, automaticamente a sua
fala será cortada do vídeo. Esse vídeo não está sendo transmitido de forma
direta.
(Aparte
anti-regimental do Ver. João Antonio Dib.)
Também
contra ou a favor, na verdade não pode se manifestar, não pode ficar claro na
tribuna que se está tratando do aspecto eleitoral. Como nós estamos gravando
para que hoje à noite esta Sessão seja transmitida pela TV Câmara, através do
Canal 16, nós temos tempo e faremos isso com toda a tranqüilidade; nós
simplesmente cortaremos a intervenção de quem se posicionar na tribuna. As
pessoas são livres para fazer o que bem desejarem da tribuna, porque esta é uma
Casa democrática, mas a legislação eleitoral nos impõe que o que for veiculado
a partir da nossa TV Câmara não fira a legislação eleitoral. Nós já estamos
avisando que qualquer menção favorável ou contrária a candidatos,
obrigatoriamente, a TV Câmara não irá transmitir. Isso tem de ficar muito
claro, para que não tenhamos depois qualquer contratempo.
Volto
a dizer: nós não estamos aqui cerceando que as pessoas utilizem a tribuna e se
manifestem da forma mais livre possível, dentro dos seus cinco minutos; o que
estou comunicando é que, se essa intervenção feita da tribuna entrar no aspecto
eleitoral, automaticamente não será veiculada pela TV Câmara, quando da
apresentação do programa na noite de hoje. Feitos esses esclarecimento, nós
iniciamos o processo dizendo claramente que a Câmara Municipal de Vereadores,
ao longo dos últimos dez anos, tem procurado de todas as formas realizar um
profundo debate sobre esse importante tema. Não foram poucas as iniciativas
levadas a efeito pelos Srs. Vereadores e pelas Sr.ªs Vereadoras que
tentaram ou disciplinar ou modificar a lei ou formalizar a lei que aqui existe
e que, neste momento, está suspensa pelo Tribunal de Justiça.
Vou
relembrar alguns fatos: já em 1990, pelo Processo n.º 2.236 do Ver. Clóvis
Brum, havia um Projeto de Lei que proibia o funcionamento do comércio aos
domingos e feriados. Depois, a Lei n.º 6.988 de 13 de janeiro de 1982, de
autoria do Ver. Isaac Ainhorn, facultava o funcionamento do comércio aos
domingos no Município de Porto Alegre alterando a Lei n.º 6.725/90. Já a Lei
n.º 7.109 de 3 de julho de 92, de autoria do Ver. Zé Valdir, que alterou a Lei
n.º 6.988/92, facultava a abertura de estabelecimentos operados diretamente por
sócios ou familiares ou que viessem a atender ao disposto na Constituição
Federal, no seu art. 8.º, incisos III e VI. Essa Lei foi suspensa por liminar,
numa ADIn Ação Direta de Inconstitucionalidade, no dia 2 de agosto de 2002;
ou seja, há poucos dias.
Atualmente,
tramita nesta Casa o Processo n.º 2.832/2002, Projeto de Lei do Legislativo nº
177/02, do Ver. Nereu DAvila, que dispõe sobre a abertura e horário dos
estabelecimentos comerciais no Município de Porto alegre, sendo de segunda a
sábado, das 9h às 19h, e fica proibido o funcionamento aos domingos e feriados,
excetuando-se algumas datas.
Este
é um breve histórico de toda a discussão que esta Casa tem travado ao longo dos
últimos dez anos. Sem dúvida nenhuma, esta Audiência se torna por demais
oportuna para que nós possamos aprofundar o debate e buscarmos, quem sabe, uma
solução definitiva sobre esse assunto que tanto inquieta comerciários,
comerciantes e a população de Porto Alegre.
O
Sr. Aurélio Zabaleta, Presidente da Associação Empresarial Nova Azenha, está
com a palavra.
O SR. AURÉLIO ZABALETA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores,
lideranças de entidades aqui representadas, senhores e senhoras comerciantes,
comerciários; em primeiro lugar, quero agradecer à sensibilidade da Presidência
desta Casa por nos permitir novamente debater este assunto tão palpitante que o
senhor mesmo referiu, Sr. Presidente. E eu começo muito satisfeito, porque a
sua fala é uma das primeiras que registra descontentamento de comerciantes.
Continuamos encontrando na mídia a referência única e exclusiva a um pretenso
embate que estaria se dando entre empresários e comerciários, o que não é
verdade. Esse fato continua repercutindo na mídia, porque nós, pequenos
empresários descontentes com esta situação, não somos pagantes de espaço
publicitário e, por isso, não temos possibilidade de expressar o nosso
entendimento, a nossa vontade, a nossa ação.
Ver.
Isaac Ainhorn, esta Casa já conhece as posições da Associação Nova Azenha a
respeito deste assunto. Exatamente por isso comecei agradecendo a V. Ex.ªs
pela paciência de, novamente, quererem ouvir.
Além
da necessidade de esclarecer as posições de cada entidade. A nossa intenção,
hoje, é esclarecer os reflexos da situação que temos no momento. Temos uma
liminar obtida de maneira difícil de entender, não pelo seu encaminhamento, mas
pela decisão, que contraria a avaliação já feita da mesma matéria, porque esta
matéria já estava julgada. Mas não sou jurista e não tenho condições de me
estender sobre o fato. A intenção que nos move, hoje, é a de que nesta Casa,
que sempre nos recebeu, que é a Casa dos representantes da vontade do povo,
possamos esclarecer o que já acontece. E o que já acontece é o que prevíamos: o
acirramento da concentração da atividade econômica.
Alguns
domingos abertos, nos últimos quarenta dias, e já há reflexo na economia do
pequeno empreendimento, especialmente naquele que prevíamos que seria o
primeiro a pagar esta conta, a área de alimentação. As atividades empresariais
que viviam com concentração maior de atividade no domingo, e que assim podiam
fazer, porque a Lei o permitia, na medida em que são atividades familiares, já
sofrem conseqüências desse problema.
Uma
série de entidades e de pessoas vão aqui se manifestar, e esperamos que fique
claramente demonstrado esse problema.
Gostaríamos
ainda de aproveitar a oportunidade para esclarecer às pessoas presentes que
também estamos questionando esse assunto em escala estadual, junto à Assembléia
Legislativa. Há o encaminhamento de uma proposta de Emenda Constitucional para
corrigir uma falha de entendimento que aconteceu quando da emissão da liminar.
Era óbvia a vontade do Legislador, quando colocou aquele artigo dizendo que é
sim direito e dever do Município legislar sobre os horários das atividades
comerciais. Mas entendemos que tudo será resolvido na esfera Estadual, na
Assembléia Legislativa.
Além
disso, Sr. Presidente, só para encerrar a nossa manifestação, a vontade da
Associação Empresarial Nova Azenha, já conhecida do Ver. Isaac Ainhorn, é de
reiterar apenas o fato mais importante que nos move. Esse assunto da abertura
do comércio aos domingos deveria ter uma escala de importância de nível três ou
quatro nas prioridades dos empresários, das entidades empresariais. Ele não tem
uma prioridade subalterna, porque estamos numa economia fragilizada, na qual se
disputa de maneira canibal o tamanho da fatia de mercado. A imprensa tem
noticiado, repetidamente, que a nossa Capital, que é a Capital de um Estado
produtor agropecuário, um dos maiores do País, tem a cesta básica mais cara do
País. Alguma coisa errada está acontecendo, senhores. Isso se chama
concentração da atividade econômica. Grandes empreendimentos concentram a
atividade econômica e estabelecem preços. Por conseqüência há a fragilização da
pequena empresa, do pequeno empreendimento, por conseqüência perdem-se postos
de trabalho, por conseqüência potencializa-se o efeito inicial da ação do
grande empreendedor. É disso que nós estamos tratando.
Por
favor, Srs. Vereadores: atentem para as manifestações que serão feitas aqui;
por favor, Srs. Vereadores, entendam que esta Casa vem votando e decidindo este
assunto há mais de dez anos, e, no meu pequeno entendimento, este Poder foi
desconstituído num erro de decisão. Gostaria de ver manifestação muito
empenhada da Procuradoria deste Poder no sentido de estabelecer que esta Casa
pode, deve, é seu dever proteger a vontade local. É por isso que estamos aqui:
esta é a nossa Casa. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): Quero destacar a presença dos Vereadores
Cassiá Carpes, Líder do Partido Trabalhista Brasileiro; Isaac Ainhorn, Líder do
Partido Democrático Trabalhista; Nereu DAvila; Ervino Besson; João Antonio Dib,
Líder do Partido Progressista Brasileiro; Raul Carrion, Líder do Partido
Comunista do Brasil; Estilac Xavier; Ver.ª Maria Celeste; Aldacir Oliboni;
Ver.ª Sofia Cavedon; Carlos Alberto Garcia, Líder do Partido Socialista
Brasileiro e o Ver. Carlos Pestana.
De
imediato, concedemos a palavra para o debate, entre os inscritos, ao Sr.
Osvaldo Pereira, que é a favor da abertura do comércio aos domingos. Ausente.
Na ausência do Sr. Osvaldo Pereira, passamos a sua ficha para o final.
Concedemos a palavra à próxima oradora inscrita, a Presidenta do SINDEC Esther
Machado.
A SRA. ESTHER MACHADO: Sr. Presidente desta Casa, Ver. José
Fortunati; Pedro Aurélio Zabaleta, Presidente da Associação Nova Azenha; Srs.
Vereadores, senhores empresários; lideranças do pequeno e do médio comércio;
companheiras e companheiros comerciários; funcionários desta Casa, que já são
nossos colegas, pois há tempo estamos vindo aqui, eles nos aturam sempre, e às
vezes tentam apaziguar os nossos ânimos. Quero agradecer a oportunidade dada pela
Associação Nova Azenha, por intermédio do Sr. Pedro Aurélio Zabaleta, de vir
aqui hoje, não para fazer a mesma manifestação que temos feito nesta Casa há
muito tempo e falado o porquê de não querermos trabalhar aos domingos e falar
tudo aquilo que vimos falando, denunciando e queixando-nos aqui.
Mas,
hoje, vimos fazer denúncias, e denúncias sérias. Essas quatro caixas que estão
aqui refletem um pouco apenas das conseqüências da abertura do comércio aos
domingos, da forma como vem acontecendo desde o começo do mês de agosto.
O
que nós temos são dados, não é uma estatística pura e simplesmente, estão os
documentos aqui, são documentos originais que eu coloco à disposição dos
senhores aqui presentes, dos Vereadores, do Sr. Presidente desta Casa, dos
companheiros e das companheiras. Desde a decisão, no começo do mês de agosto,
do Desembargador Clarindo Favretto, em que ele julgou inconstitucional a Lei
n.º 7.109/02 que regulamentava a abertura do comércio aos domingos na Capital
Porto Alegre, nós temos passado eu diria , pelo sufoco dentro das lojas, com
a coação feita de todas as formas pelos empresários. E não são pequenos
empresários ou médios empresários que uma vez falaram que não tinham
conhecimento de leis trabalhistas, são os grandes empresários, os megaempresários,
aqueles que sustentam a abertura do comércio aos domingos na cidade de Porto
Alegre.
Estão
acontecendo coisas do tipo: nas Lojas Renner, instalação de microcâmeras para
patrulhar e investigar os comerciários, os funcionários, se eles estão falando
sobre o domingo, assinando a lista contrária à abertura do comércio aos
domingos, pegando panfletos do sindicato, participando das assembléias,
conversando entre eles, se organizando. Na Loja Renner da Otávio Rocha, está
acontecendo isso. E as Lojas Renner, de uma maneira geral, chamaram todos os
funcionários em reuniões temos aqui dois funcionários das Lojas Renner para
comprovar isso , obrigando-os a assinar a alteração do contrato de trabalho,
incluindo o domingo como dia de trabalho, com ameaça de demitir quem não
assinasse. Está acontecendo exatamente igual, estamos citando o nome das lojas,
porque nós não temos medo, nós temos a certeza do que estamos falando, porque
essa é uma denúncia muito séria. Lojas Paquetá, Lojas Americanas, Multisom,
Tumelero, Joalheria Cruzeiro, Lojas Colombo, Grazziotin e tantas outras que eu
tenho aqui nominadas. A Grazziotin demitiu, por justa causa, um funcionário de
nome Leon Menezes, porque ele não quis trabalhar no domingo, tinha um
compromisso, não foi trabalhar domingo, e na segunda-feira ele foi demitido,
por justa causa. E a Grazziotin avisou a todos os funcionários que todos eles
que faltassem aos domingos, sob qualquer pretexto, seriam demitidos, por justa
causa, por dissídio, por não estarem cumprindo a convocação do trabalho.
Falaram
muito que teriam novas demissões - e o comércio aos domingos na Capital já está
abrindo há dois meses, indiscriminadamente, todos os domingos - e nós temos
aqui mil setecentas e trinta e oito demissões, no setor do comércio, de
funcionários com mais de um ano de empresa. Porque funcionário, infelizmente,
com menos de um ano de empresa não passa a homologação pelo Sindicato dos
Empregados no Comércio.
Nós
estamos com problemas na creche que temos no Sindicato - temos duas unidades de
creche, atendemos duzentas crianças, filhos de comerciários -, já há um
problema de comportamento das crianças, pelo afastamento que estão tendo dos
seus pais, e, principalmente, das suas mães, que trabalham aos domingos.
Temos
outro caso, que consideramos uma aberração, que agora no dia 6 de outubro e o
dia 27 de outubro, no segundo turno, em que o Shopping Praia de Belas está
aqui a convocação , está convocando todos a abrirem as lojas o dia 6 de
outubro e o dia 27 de outubro. As Lojas Renner, na sua listagem de funcionários
convocados para trabalhar no dia 6, está perguntando o local de votação de cada
um para verificar se eles terão condições de chegar no horário do trabalho às
14 horas. Isso, para nós, é um atentado à democracia. Só quem viveu essa época,
só quem lutou muito pela democracia neste País, quem lutou pelas Diretas, quem
sofreu as agruras da ditadura é que sabe o que significa o dia das eleições no
Brasil. Não é mais nem um dia sagrado, é o direito de exercer a democracia, a
cidadania, o nacionalismo, a preservação da nossa Pátria, o amor que temos ao
Brasil. E sem falar também do cidadão que está sendo impedido nesse dia não só
de votar com tranqüilidade de vida, mas de exercer o seu direito que é o de
fazer a sua campanha política, a sua boca-de-urna, a convocação aos seus
parentes, aos seus amigos para votarem no candidato que tem simpatia e que lhe
agrada, dias 6 e 27.
Temos
um caso ainda mais grave: encontra-se aqui presente, hoje, uma companheira, uma
mulher comerciária, mãe de dois filhos, que não trabalha aos domingos, não quer
trabalhar aos domingos, diz isso dentro da empresa, falava isso isso para
comprovar para aquelas pessoas que dizem que a abertura do comércio aos
domingos é livre para quem quiser abrir e é livre para quem quiser trabalhar. A
liberdade é tão grande que temos aqui, numa semana em que o CDL convocou
quarenta pessoas para ocupar vagas, postos no setor do comércio, alegando que a
abertura do comércio aos domingos iria gerar emprego, só naquela semana foram
demitidas duzentas e cinqüenta e três pessoas, ou seja, eles ainda estão com um
déficit, naquela semana, de duzentos e dez trabalhadores. E a liberdade é tão
grande que essa companheira não foi trabalhar domingo; é uma delegada de base
que desde que começou essa história, desde a malfadada decisão eu digo isso
, o Desembargador Clarindo Favretto, negando tudo o que ele havia dito dez
anos atrás; ele não pensou um segundo sequer nas conseqüências do que ele fez.
A companheira não foi agredida somente verbalmente, não, além desse empresário
chamar a companheira de vagabunda, de cuspir na sua cara, puxá-la pelos cabelos
e quebrar o seu celular, porque ela não quis trabalhar aos domingos.
Eu
gostaria que a companheira tivesse uma oportunidade para depois falar sobre
essa denúncia. Isso é muito pouco, gente! É grave! É gravíssimo o ato dessa
empresa, mas é muito pouco perto do que está acontecendo, pois a agressão não é
só física, é a pressão psicológica também. É o não poder denunciar a injustiça
que estão sofrendo, porque vão fazer parte, fatalmente, da lista negra das
empresas. A lista negra existe! Cada companheiro que for ingressar num posto de
trabalho, ele cita a empresa que trabalhou anterior, a função que teve e é
perguntado diretamente por telefone ou pessoalmente àquela empresa sobre a
conduta do trabalhador, e ali vai ser dito que ele se negava a trabalhar aos
domingos. Para não fazer parte da lista negra, muitas e muitos têm medo de
denunciar, têm medo de falar à imprensa.
Nós
fomos atacados aqui várias vezes por um Vereador que disse que duvidava disso.
É uma pena que ele não está aqui hoje. Não é nada pessoal contra ele, porque
sabemos que ele está realmente desinformado. Mas estão aqui as demissões; estão
aqui as pessoas demitidas; estão aqui todas as denúncias da conseqüência da
abertura do comércio aos domingos, sem falar na declaração do Presidente da
AGAS, esta semana no jornal, onde ele disse textualmente que, fatalmente, as
compras de açougues e mercearias irão migrar para supermercados. Isso, para
nós, são mais desempregados, porque, se migrarem as compras definitivamente
para os grandes hipers, para os megas, teremos o desemprego nos bairros.
A
categoria nossa é composta de 80% de empregados de micro, pequenos e médios
empresários. Vislumbra-se mais o número absurdo de demissões com essa abertura
desenfreada do comércio aos domingos.
Vou
encerrar, porque sei que hoje há muitas denúncias, muitos companheiros e
companheiras que vão falar o que está acontecendo. Quero agradecer mais uma vez
a esta Casa pela compreensão.
E
vou reafirmar o que eu disse aqui na segunda-feira passada: não tenho dúvida
nenhuma de que esta Casa, de que os Srs. Vereadores que foram eleitos não estão
aqui só para fazer as leis; não estão aqui só para decidir o ICMS, para decidir
o Imposto Urbano e Territorial, para dar nome de rua; estão aqui para fazer o
que fizeram durante esses dez anos, votar leis que também protejam o cidadão
porto-alegrense; votar leis que protejam o trabalhador, porque a Lei n.º 7.109,
para nós, comerciários, não só de Porto Alegre, mas do Rio Grande do Sul e do
Brasil inteiro, é a mais perfeita até hoje, e é a mais justa, porque permite a
negociação entre ambas as partes e a negociação entre os sindicatos, porque só
assim se preserva o trabalhador dentro das lojas. Muito obrigada. (Palmas.)
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): O Sr. Homero Saraiva está com a palavra.
O SR. HOMERO SARAIVA: Sr. Presidente, Sr.ªs
Vereadoras, Srs. Vereadores e demais participantes, eu represento a
Distribuidora de Produtos Alimentícios que atende essa grande massa que está
aqui. Já não é de hoje que a Claju se preocupa com o pequeno comércio, desde a
sua fundação, com o seu Diretor Cláudio Bifano, há trinta e cinco anos, levando
de barco os produtos aos seus clientes nas enchentes da Ilha da Pintada. O
nosso crescimento é fruto, nada mais nada menos, do pequeno comércio de Porto
Alegre e do Rio Grande do Sul.
Pasmem,
também, senhores, que nós dependemos demais desses pequenos varejos. Vejam que
a minha empresa tem sessenta funcionários, oitenta representantes comerciais, e
mais de trinta freteiros terceirizados dependendo do pequeno negócio. Eu não
sou vendedor da grande rede; não sou, não sou mesmo. Então, mais do que nunca e
a partir de agora a gente abraça essa causa de vocês, somos parceiros de vocês,
porque nós temos condições de, juntos, fazermos promoções melhor do que
qualquer grande rede que está aqui dentro deste Estado, com certeza melhor.
Hoje, qualquer um pode comprar um vinho importado ali no Ortiz mais barato do
que numa grande rede e por causa nossa, da distribuição que se pode fazer.
Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): Antes de passar a palavra ao próximo
orador inscrito, transfiro a presidência dos trabalhos ao Ver. Carlos Alberto
Garcia.
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Sr. Ademar Ortiz está com a palavra.
O SR. ADEMAR ORTIZ: Sr. Presidente, Pedro Zabaleta, Srs.
Vereadores, Sr.ªs Vereadoras, senhoras e senhores, que estão todos,
aqui, prejudicados pela abertura do comércio aos domingos. Por que eu falo
isso? Porque hoje nesta Casa é um momento histórico que está acontecendo,
porque aqui dentro está o dono de mercado, minimercado e fruteira de Porto Alegre,
coisa que nunca aconteceu. Nós estamos aqui exigindo um direito de trabalhar e
de sustentar as nossas famílias. Chegou o tempo em que nós ficávamos atrás dos
nossos balcões sem fazer nada e só trabalhando para fazer crescer esta Cidade,
para enriquecer esta Cidade. Só que hoje essa riqueza está somente nas mãos dos
grandes. Só desses grandes; tem três que estão dominando o comércio e a
alimentação neste Estado, principalmente em Porto Alegre.
Então,
companheiros, eu quero dizer que nós temos que tomar atitudes dentro desta Casa
que protejam esses comerciantes que estão aqui. E não são só eles: nós somos
mais de quatro mil comerciantes de Porto Alegre, pequenos comerciantes de
bairro, economias familiares que dependem da sobrevivência e da abertura aos domingos.
A grande rede abre aos domingos e o pequeno comerciante chega a perder 50% das
suas vendas no domingo, quando era o melhor dia de faturamento dele. Hoje
está-se tornando o pior dia de venda, o Domingo, para o pequeno comerciante.
Então, se continuar essa situação por que nós estamos passando, vai acabar que
todas as pequenas empresas no futuro quebrarão, e aí nós vamos ter um problema
maior ainda.
Pedimos
a atenção dos Srs. Vereadores, que se aliem e que criem uma proteção maior aos
nossos pequenos comércios, porque a gente precisa sobreviver, a gente tem
família que nem vocês. Eu acho que é nesta Casa que se devem fazer leis fortes
e firmes para nos dar proteção de sobrevivência.
Havia
um índio na Revolução para defender este Estado, na invasão dos espanhóis, que
dizia assim: Esta terra tem dono. Sepé Tiaraju falou isso. Tem dono, sim:
somos nós, os gaúchos, sim. Rede Sonae, Rede do Carrefour que vêm aqui e mandam
nos nossos comércios. Tem dono. Nós somos gaúchos e temos que valorizar isso.
Tem dono, sim, somos gaúchos e temos que nos valorizar por isso. Como que a
gente vai conseguir isso? Temos que fazer leis fortes, aqui, para nos
protegermos, não esses estrangeiros, que não têm o poder de abrir loja no país
deles. Eles vêm aqui e abrem essas lojas que massacram e acabam com o comércio
pequeno de bairro.
Acho
que chegou, já estamos no limite, nos mobilizamos com uma abertura aos domingos
por mês, começamos ali, agora são quatro domingos ao mês. Como é que os
senhores acham que nós estamos sobrevivendo?
Em
cada reunião que faço vão mais de cem comerciantes, desesperados porque não têm
mais a quem recorrer.
Estamos
aqui hoje pedindo o apoio de vocês, desta Casa. Não podemos deixar o tempo
passar, porque vai começar a inadimplência nesses comércios, e, a partir desse
momento, vem a quebradeira. Acho que aqui é o momento, aqui, hoje, é um momento
histórico nesta Casa. Os donos de mercados e minimercados estamo-nos
manifestando, e vamos voltar. Se formos prejudicados, vamos voltar. Do jeito
que está, vamos fechar as nossas empresas. Agradecemos a atenção de todos e
esperamos o apoio desta Casa. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Queremos registrar que o Sr. Ademar
Ortiz é Presidente da Associação dos Mercados, Minimercados e Fruteiras de
Porto Alegre. Solicitamos que cada orador que ocupar a tribuna identifique que
entidade está representando.
Com
a palavra a Sr.ª Amália Leal Medeiros, representando a CEASA e os pequenos
armazéns de Porto Alegre.
A SRA AMÁLIA LEAL MEDEIROS: Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
representantes de todas as pequenas empresas que estão aqui hoje, estou
representando o pessoal da CEASA e os agricultores. Com a abertura do comércio
aos domingos, a CEASA, os agricultores dependem dos pequenos, porque não são os
poderosos que compram na CEASA, então vai dar muito desemprego. Os agricultores
vão começar a perder também. Então, abrindo aos domingos, vai prejudicar os
agricultores, o pessoal da CEASA. Quer dizer, eu sou contra a abertura aos domingos.
O que será dos pequenos? Eles têm família, eles pagam aluguel, eles compram os
mantimentos fiado para poder pagar. Como é que eles vão conseguir sustentar as
esposas? Eles têm filhos, eles têm esposas! O que vai ser deles?
Então,
eu sou contra a abertura do comércio aos domingos. Nós temos que pensar é nos
pequenos e não nos poderosos. Era o que eu tinha que falar. (Palmas.)
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia):
A Sr.ª Silvana Rosa da
Silva está com a palavra.
A SRA. SILVANA ROSA DA SILVA: Eu sou Delegada de Base do Sindicato,
trabalho na Voluntários da Pátria. Fui discriminada, porque quando o Sindicato
precisa eu ajudo para defender o domingo. Então, eles me disseram que eu tinha
que trabalhar aos domingos e eu disse que não ia. Se eu estou defendendo o
domingo, como é que vou trabalhar aos domingos? Então, eles cuspiram no meu
rosto, disseram que eu teria que trabalhar, que eu era uma vagabunda, me
agarraram pelos cabelos. Eu sou mãe de dois filhos, como é que vou trabalhar
aos domingos? Domingo, não! Sou contra trabalhar aos domingos. Dei queixa na
polícia, está registrado para quem quiser ver. É o que eu tinha que falar,
domingo não! Tem que dar um jeito nisso. A loja é na Voluntários da Pátria, n.º
45, Lojão 45, dos palestinos, no caso, Arno Trindade Bágia e Nádia Trindade
Bágia. (Palmas.)
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia):
A Sr.ª Nara Schinandorf,
da Comissão dos Lojistas do Shopping João Pessoa está com a palavra.
A SRA. NARA SCHNARADORF: Boa-tarde a todos, ao Sr. Presidente, aos
Srs. Vereadores e a todos os presentes que estão na briga pelo fechamento do
comércio aos domingos. Eu tenho loja no Shopping João Pessoa, sou
Vice-Presidenta da Comissão do Shopping João Pessoa. Praticamente, somos nós
empresários que estamos ali dentro trabalhando dia a dia. Eu sou contra a
abertura do comércio aos domingos, porque, por diversas vezes, nós abrimos aos
domingos e não há movimento. Não é o domingo que vai salvar a pátria, o que não
existe é dinheiro.
Eu
quero dar uma sugestão, o Pedro acho que quando falou esqueceu, mas eu gostaria
que se fizesse um plebiscito no comércio em geral com as micro e pequenas
empresas, porque os grandes sempre vão ser a favor. Gostaria que se fizesse um
plebiscito para podermos ter dados suficientes, para vermos como a maioria é
contra a abertura. Acho que essa é a minha maior sugestão: que seja feito um
plebiscito. É a maneira mais viável de podermos ter dados para resolver esse
problema. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia):
A Sr.ª Helena Maria
Vargas está com a palavra.
O SR. NEREU DAVILA (Questão de Ordem): Sr. Presidente, estou notando que houve
um elenco de oradores, deveria ser um pró e um contra. Bom, se não tem, aí tudo
bem. O que estou notando também é que os Vereadores não estão-se pronunciando.
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia):
Os Vereadores vão-se
pronunciar logo após.
O SR. NEREU DAVILA: Logo após, pois é, mas eu acho que não há
nenhum impedimento de que os pronunciamentos sejam alternados entre Vereadores
e eles, até para que seja ponderado, senão fica meio discriminatório, até
porque as posições dos Vereadores já estão
meio cristalizadas.
Então,
se não houver prejuízo e se as partes concordarem, podemos mesclar, senão falam
primeiro eles e depois nós. Ora, as nossas posições estão muito claras. Se, por
exemplo, houver necessidade de que falem mais pessoas, não Vereadores, e que eu
sacrifique a minha inscrição, não tem problema que eu sacrifique. Agora,
também, acho que nós, os Vereadores, ficarmos por último, daí fica meio que
discriminatório em relação a nós. Mas, de qualquer maneira, não estou
discutindo a decisão da Mesa, eu só quero que seja bem encaminhado o assunto.
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia):
Mas, Vereador, logo no
início da fala do Presidente, quando abriu a Sessão, foi colocada essa
metodologia, e essa metodologia é a que nós vamos utilizar.
A
Sr.ª Helena Maria Krausburg Vargas está com a palavra.
A SRA. HELENA MARIA KRAUSBURG VARGAS: É
um prazer estar aqui presente com vocês, nós termos esta oportunidade de nos
colocarmos como empresários dentro dessa colocação importante, como a Esther
Machado falou. Eu achei genial a colocação da família, porque nós temos vários
pareceres, tem vários tipos. Eu coloco um exemplo: eu não posso me ausentar nos
domingos diretamente, sempre, porque cada família tem um tipo de problema. Eu,
na minha casa, tenho dois filhos adotivos e eu preciso dar mais apoio. Eu tenho
uma filha excepcional com onze anos. Tenho uma ótima empregada, mas eu não
posso usar a minha empregada direto, por melhor que ela seja, Esther, porque eu
vou perder. E daí? Vai ser pior, eu não vou ter durante a semana. Então, essas
coisas nós temos que ver.
Outra
coisa que sou contra e que sempre comento no SINDILOJAS: nós não vamos dar, no
caso, oitocentos ou mil e quinhentos empregos nos shopping. Nós vamos tirar de dez a quinze empregos de bairros, com
certeza. Eu tenho vinte e um anos de casa, eu sou uma micro. É claro, isso aí
só não entende quem não quer entender. Então, nós temos que acabar com isso,
que é uma brincadeira, uma palhaçada. Nós temos que dar valor a família, a
droga está aí, gente! (Palmas.) Obrigada.
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): A Sr.ª Soraya Frank, representante do
SINPRO-RS, Sindicato dos Professores das Escolas Privadas do Estado do Rio
Grande do Sul, está com a palavra.
A SRA. SORAYA FRANK: Sr. Presidente, Sr.ªs
Vereadoras, Srs. Vereadores, demais presentes, venho hoje representando o
SINPRO-RS, Sindicato dos Professores das Escolas Privadas do Estado do Rio
Grande do Sul. Falo aqui como professora que sou há vinte anos, tanto da rede
pública, como da rede privada. A nossa preocupação é quando em contato com o
pessoal do Sindicato dos Comerciários, quando em contato com as dedicadas
professoras das creches, com as companheiras comerciárias, que conversam
conosco em função de seus filhos, por necessidade de trabalho, estarem
matriculados em creches e em pré-escolas.
Existe
uma pesquisa mundial que trata da institucionalização das crianças desde a mais
tenra infância. A quantidade de tempo que essas crianças ficam longe de suas
famílias, muitas vezes por necessidade de trabalho - e a gente sabe da importância
da educação infantil, mas não é isso que a gente veio discutir aqui, pois todo
mundo sabe que é necessário, que é fundamental e que é um direito -, o excesso
de institucionalização das crianças causa problemas de saúde, inclusive de
nível psicológico. O que se dirá, também, dessas mães, desses pais que têm de
se afastar da convivência de seus filhos nos finais de semana, deixando essas
crianças institucionalizadas também aos domingos? Pensem em que convivência
social, familiar, que qualidade de relação a gente está negando a essas
crianças. Estamos negando um direito.
Eu
comentava com as comerciárias que isso é um crime contra a infância, é um crime
contra as crianças filhas dos comerciários. Se a gente não quer pensar no
sujeito, no ser humano que está atrás do balcão e como diz a faixa atrás de
um balcão também bate um coração , que olhemos um pouco para essa infância
afastada da sua família. Crianças que chegam, na instituição, muitas vezes, às
8, 10h e vão sair às 22h. Essas crianças não têm qualquer qualidade de convívio
com seus pais. Isso também é uma questão com que temos que nos preocupar e
abordar aqui neste momento.
A
venda, o lucro das grandes empresas é importantes para a economia de uma
cidade, quando 80% da população, que trabalha no comércio, está exatamente no
pequeno comércio? Quais são as vantagens que de fato vai ter a Cidade, a
população e a população trabalhadora com essas condições de sobrevivência e de
vida dos funcionários do comércio?
A
gente traz essa reflexão, é uma preocupação com relação à infância desta Cidade
e em especial com as filhas e filhos dos companheiros comerciários. O SINPRO/RS
está com vocês nessa luta, companheirada, porque isso é um absurdo e a gente
não pode permitir um crime contra essas crianças. (Palmas.)
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Sr. Saturnino Vargas está com a
palavra. Ausente. A Sr.ª Anadir Alba, da Associação Comercial da Tristeza, está
com a palavra.
A SRA. ANADIR ALBA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores desta
Casa, que têm nos apoiado na luta pela não-abertura do comércio aos domingos,
nós somos de uma associação comercial de um bairro que tem um pólo comercial
não de ontem, nem de anteontem. Nós temos empresas no Bairro Tristeza e
arredores, que têm sessenta, cinqüenta anos o Ervino Besson conhece bem a
nossa realidade; vários Vereadores daqui conhecem bem a nossa realidade lá na
Região Sul. São empresas que vêm lutando com muito esforço para se manter;
pequenas empresas, sim, mas de gente honesta, trabalhadora, que vem tentando,
com muito esforço, se manter nesses últimos anos de crise que vive este País.
No nosso Bairro temos em torno de trezentas e cinqüenta a quatrocentas
empresas. Se incluirmos as empresas de serviços, ainda é maior o número. A Tristeza
é muito mais que um shopping. Lá nós
temos de tudo.
Pois
bem, nós precisamos do apoio dos Vereadores, da comunidade; para isso nós
mobilizamos inclusive os nossos clientes, conversando com eles, colocando a
importância de que eles entendam a questão da não-abertura do comércio aos
domingos. Por que a não-abertura do comércio aos domingos? Porque o nosso
Estado é tido, neste País, como o de melhor qualidade de vida, e precisamos
preservar isso. Nós, que somos empresários, trabalhamos de doze a dezesseis
horas diárias para manter o nosso negócio, porque o funcionário começa a
trabalhar quando a gente abre, e depois que a gente fecha, às 20h. Nós
trabalhamos das 8h30min às 20h. Por aí vocês vêem, sem fechar ao meio-dia, qual
é a carga horária de trabalho que temos, de segunda a sábado.
Precisamos
preservar a nossa qualidade de vida, ter o mínimo de qualidade de vida, e
desenvolvimento só se faz com qualidade de vida, tendo um dia de descanso na
semana. Isso é mais do que justo, não só para nós quanto para o nosso
colaborador, e é assim que entendemos o nosso funcionário: ele é um
colaborador, porque ele, na pequena empresa, tem um vínculo mais próximo do que
na grande empresa, onde as empresas são números. E nós temos uma importância
social, nós, pequenos e médios empresários, muito grande. Tenho dito isso para
os meus colegas e gostaria de frisar aqui, porque somos, felizmente, os grandes
geradores de emprego neste País, porque o grande, como o BIG lá do Cristal, em
vez de empregar gente, bota o quê? Rodinhas embaixo dos pés dos guris para
correrem mais rápido e botar menos gente. Nós não botamos rodinhas embaixo dos
pés. Nós não temos o mesmo comportamento de informatizar, de usar a máquina no
lugar do trabalho da mão humana. Nós empregamos gente.
E
é desta maneira que a gente solicita, encarecidamente, a esta Casa, que
considere isso: estamos lidando com gente, o comerciário é gente, o pequeno
empresário é gente, que precisa, como qualquer um, de descanso, como os
Vereadores precisam de descanso, como o Judiciário precisa de descanso. Quem
sabe nós todos vamos trabalhar aos domingos? Será que todo mundo gostaria? Ou
será que é só o comércio que tem que trabalhar aos domingos? O Judiciário está
cheio de processos parados. Seja na Justiça do Trabalho, e sabemos muito bem
quanto tempo leva um processo na Justiça do Trabalho, seja em qualquer área. E
lá não precisa trabalhar no domingo. Por que não? Por que só nós? Para gerar
desenvolvimento? Mas, que desenvolvimento, se não houve aumento de poder
aquisitivo? Muito pelo contrário, o poder aquisitivo da população caiu. Então,
para o que é que é? Para gerar maior concentração de renda. Muito obrigada.
(Palmas.)
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Sr. Guiomar Vidor, da FECOSUL, está
com a palavra.
O SR. GUIOMAR VIDOR: Sr. Presidente, Sr.ªs e Srs.
Vereadores, Sr. Zabaleta, Presidente da Associação, senhoras e senhores do
Plenário. Eu represento aqui a Federação dos Trabalhadores do Comércio do
Estado do Rio Grande do Sul. Para nós este é um debate antigo, mas que se
coloca mais uma vez nesta Casa na atualidade. É importante a denúncia que
inicialmente foi feita aqui, e nós também recebemos com estranheza essa decisão
do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Na verdade, e
principalmente, vindo ela do Desembargador Dr. Favretto, que foi quem declarou
a mesma Lei, que agora é dita como inconstitucional, constitucional em 1992,
1993. Isso nos pegou com uma grande estranheza; certamente alguma força
oculta deve estar por trás disso que está acontecendo hoje no Município de
Porto Alegre.
Eu
queria destacar duas questões, principalmente no que diz respeito à garantia
dos direitos da categoria comerciária. Nós temos de levar em conta essas
questões que já foram colocadas aqui, tanto por pequenos comerciantes como
pelas comerciárias e comerciários que já denunciaram inúmeras vezes que a nossa
categoria é composta na sua grande maioria por mulheres que já sofrem o
problema da dupla jornada de trabalho. Não só das mulheres, mas dos homens
também; se formos levar em conta o comércio em geral, hoje, trabalha, está
aberto das 8h às 22h, de segundas a sábados. São mais de oitenta horas por
semana. Será que isso não é o suficiente para a população se dirigir aos
estabelecimentos comerciais para adquirir aquilo de que necessita? Ainda há uma
Lei especial para que as atividades consideradas essenciais como farmácias,
padarias, etc., funcionem nos domingos e feriados; está garantido aquilo que é
essencial. Será que não é suficiente para o comércio em geral, mais de oitenta
horas por semana para a população se dirigir e comprar? Ou seja, o comerciário,
mais uma vez, tem de pagar por essa situação? Então, levantamos que o
trabalhador, que já exerce a sua atividade durante toda a semana, necessita e
precisa ter um dia de recuperação e, principalmente, um dia de convivência com
a sua família, com seus amigos e com a sociedade como um todo, inclusive para
se revigorar para o trabalho da próxima semana, que inicia novamente na
segunda-feira. Então, isso é fundamental.
Mas,
tem outro aspecto nessa discussão que hoje está sendo feita aqui nesta Casa,
que é a luta do pequeno e do médio comércio, a luta da sobrevivência do pequeno
e médio comércio contra os grandes monopólios, contra os shopping centers. Na verdade, é isso o que está-se discutindo do
ponto de vista econômico, não é uma simples discussão entre comerciantes e
comerciários; é a luta do grande contra o pequeno, porque, hoje, companheiros e
companheiras, na verdade, se você abrir o comércio aos domingos não irá
aumentar o dinheiro, o montante de dinheiro da população, para se aumentar as
vendas; você, simplesmente, vai transferir a venda que é feita no dia de semana
para o domingo. E quem tem condições de concorrer? São os grandes estabelecimentos,
são os grandes aglomerados, são os shopping
centers, esses são os que irão puxar para dentro lá dos seus
estabelecimentos a venda, que hoje serve inclusive como fonte de sustentação da
pequena e média empresa e de sustentação da maioria dos empregos no comércio.
Portanto, isso significa também mais desemprego para a categoria dos
comerciários e para os trabalhadores.
Para
concluir, Sr. Presidente, a nossa Federação dos Trabalhadores do Comércio
defende, não só aqui em Porto Alegre, mas em todo o Estado, uma lei que
regulamente a abertura e o fechamento do comércio. Isso é bom para os
trabalhadores, é bom para o comunidade, é bom também para o pequeno e médio
comércio de rua, e, por isso, entendemos, como já dizia Lacordaire, no século
passado ou retrasado, ainda, que entre o forte e fraco a lei liberta e a
liberdade escraviza. Essa liberdade que está aí é para escravizar o
trabalhador, essa liberdade pretensa, entre aspas, que estão pleiteando aqui é
também para acabar com o pequeno e médio comércio de rua. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia):
Ver. Nereu DAvila,
revisando as notas taquigráficas, realmente, o Vereador-Presidente não citou,
só dizia as instituições. Agora, concederemos a palavra para dois Vereadores.
O
Ver. João Antonio Dib está com a palavra.
O SR. JOÃO ANTONIO DIB: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, senhores
comerciários aqui presentes. Na segunda-feira, esta Casa homenageava o
Sindicato dos Comerciários pelos setenta anos. Do fundo do meu coração eu
saudava, em nome da minha Bancada, e dizia do desejo que eu tenho de que haja
sucesso nas suas iniciativas. Eu dizia da preocupação que nós tínhamos com a
verdade, eu falava dos falsos profetas.
Eu
sou obrigado a registrar, com profunda tristeza, porque eu sou um Vereador e
os comerciários estão acostumados a vir aqui, não é Sr. Bronzatto? que chega
em primeiro lugar aqui e senta à espera da Sessão, que nesta semana eu passei
trabalho. Eu sofri! Hoje, a Bancada do Governo que tem onze, tem sete no
Plenário. Quarta-feira, nós não tivemos quórum; ontem fugiram; na
segunda-feira, depois da homenagem, também fugiram. Então, eu preciso dizer da
importância dos senhores para que esta Casa funcione, para que os Vereadores se
apresentem aqui. Há alguns de que eu até estava com saudades. Até estava com
saudades deles! Mas os senhores vieram e eles também. Então, nós encontramos os
Vereadores dos quais nós tínhamos saudades.
Sr.
Presidente, meus queridos comerciários, cuidado com os falsos profetas! Não se
pode vir a esta tribuna e colocar sobre a figura do Desembargador Clarindo
Favretto qualquer dúvida, porque aqueles que aqui falam não têm imunidade,
podem se incomodar, e eu acho que o Dr. Favretto não merece o que foi dito
aqui. Não merece! Agora, uma coisa me entristece - eu sou Vereador sete dias
por semana -, eu não entendo, tendo havido uma liminar determinando a abertura
do comércio, que os doutos Vereadores não tenham organizado uma Comissão
Especial para ver o que é que está acontecendo, para que, então, nós
tivéssemos, com a responsabilidade e a seriedade que tem de ter o representante
do povo, conclusões seguras. Não,
nós estamos fazendo os mesmos discursos que eu aturei durante quinze dias aqui.
Não foi isso, Valdir Bronzatto, meu amigo? Estou ouvindo os mesmos discursos!
Não vi ninguém se preocupar: Bom, agora, vamos ver o que é que acontece. Nós
somos os representantes do povo, nós vamos lá saber, junto aos comerciários ou
nas lojas, no domingo, o que é que está acontecendo. Não, nós vamos fazer os
mesmos discursos aqui, nós vamos falar de qualquer assunto, menos da verdade;
porque a verdade, de repente, não agrada a alguns. Não seria mais fácil nós
fazermos uma análise do que está ocorrendo com essa abertura que está liberada?
Eu
era Secretário de Transportes, ou melhor, Assistente Técnico da Secretaria de
Transportes, quando a Carris fez uma greve de dez dias. Eu não fui brigar com a
Carris. Eu determinei que os servidores da Secretaria, que faziam fiscalização,
analisassem o que é acontecia com a Carris não funcionando, com os bondes e,
depois, nós encontramos soluções. Mas os falsos profetas estão aí. Sete, dos
onze Vereadores da Bancada do Prefeito, estão aqui. E o Prefeito diz que está
com medo do recesso branco da Casa, que não vota os seus Projetos!
A
verdade é impressionante, é necessária, é indispensável. E parece que nós
estamos querendo fazer os mesmos discursos.
Que
grande oportunidade está sendo perdida de buscar a verdade! Isso eu gostaria de
ver, uma Comissão de Vereadores, com a isenção que caracteriza os Srs.
Vereadores, que são representantes do povo, que fosse lá buscar essa verdade.
De repente, a Esther teria toda a razão, apoiada por alguém que dissesse: Não,
nós verificamos e, realmente, isso é ruim. Ou, então, chegaria à conclusão
diversa do que a nossa querida presidenta pretende, mas seria uma versão isenta
dos representantes do povo de Porto Alegre. Saúde e paz. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE(Carlos Alberto Garcia):
Queremos registrar a presença da sempre Vereadora, e hoje Deputada Estadual,
Maria do Rosário, seja bem-vinda a esta Casa.
O
Ver. Raul Carrion está com a palavra.
O
SR. RAUL CARRION: Ex.mo
Ver. Carlos Garcia, que dirige os trabalhos. (Saúda os componentes da Mesa e demais
presentes.) Queria, em primeiro lugar, estranhar a ausência, no dia de hoje, de
todas as entidades que, historicamente, defendem a abertura do comércio aos
domingos: SINDILOJAS, CDL, FEDERASUL, AGAS. E dessas entidades, parece que o
Ver. Dib não notou a ausência. Interessante vocês observarem isso.
Foi
feito um edital no dia 9 de setembro, aberto a todas as entidades, e elas se
negaram a vir aqui. Eu considero que isso é uma demonstração de arrogância, uma
demonstração de desprezo com esta Casa, que abriu este espaço para escutar as
suas opiniões também. É uma demonstração de desprezo com a cidadania de Porto
Alegre e com os trabalhadores, que, evidentemente, aqui vieram.
Queria
dizer também que já é conhecida a posição da Bancada do PC do B, e sequer
necessitaria usar da palavra aqui, porque é uma luta histórica, não é de hoje
nem de ocasião.
Agora,
rapidamente tratando do assunto, primeiro, quero dizer que a lei atual não é
uma lei que impeça, sob qualquer forma, a abertura do comércio. Não. A lei atual
permite a abertura em todas aquelas situações naturais: farmácias, padarias,
combustíveis, rodoviárias e assim por diante. Segundo, permite, quando é o
próprio dono ou o seu parente em primeiro grau. Terceiro, permite a livre
negociação - que os neoliberais tanto falam -, entre o sindicato patronal e o
sindicato dos trabalhadores. Ou eles são contra essa negociação?
A
abertura do comércio aos domingos não aumenta um centavo no bolso do
consumidor, porque abre um dia a mais; não aumenta um centavo às vendas,
simplesmente distribui o que era vendido em seis dias, em sete dias.
Por
que tal empenho então? Porque é uma disputa de mercado, porque no sétimo dia,
no domingo, o cidadão não vai comprar no bairro, não vai comprar no comércio de
rua, vai comprar no shopping center;
vai comprar nas grandes redes. Então, é uma disputa e aqui ficou claro isso:
não é uma reivindicação só dos trabalhadores, é uma reivindicação da maioria
dos comerciantes, pequenos comerciantes, microcomerciantes, inclusive médios
comerciantes que estão sendo engolidos e arruinados pelo grande capital.
Outra
questão: qual é a conseqüência da abertura do comércio aos domingos? Por um
lado a escravização da categoria comerciária e principalmente das mulheres, que
já têm a dupla jornada de trabalho; segundo, a ruína do comércio de rua, do
comércio de bairro, do pequeno e do médio comerciante; terceiro, o próprio
consumidor, a médio prazo, perde, pois com a concentração, com o monopólio dos shopping centers concentrando o
comércio, quando o cidadão queimar o chuveiro e mandar o filho comprar na
ferragem da esquina vai descobrir que a ferragem da esquina quebrou e que ele
terá agora de deslocar-se para um shopping
center para comprar uma Coca-Cola, para comprar uma resistência de
chuveiro, etc.
Está
ficando claro que a chamada liberdade do comércio aos domingos está
significando o fim dos prêmios para os comerciários, o fim do vale-transporte
no domingo, o fim do vale-refeição, o fim das folgas extras, a
ultra-exploração. Mas não só isso, como ficou dito aqui, a caça às bruxas
dentro do comércio, aqueles que se rebelam e que não querem trabalhar e eles
dizem que é livre estão sendo perseguidos, demitidos, ameaçados e inclusive
agredidos, como essa jovem aqui colocou.
Eu
tenho andado nos shopping centers,
nos comércios, e lá no Shopping Praia de Belas a mesma denúncia: estão sendo
convocados para trabalhar no dia 6 e no dia 27. Parece que são estrangeiros,
não conhecem a festa da cidadania que é a eleição no dia 6 e no dia 27.
Concluo,
Sr. Presidente, dizendo que essa liminar que foi dada contra uma questão
julgada pelo Pleno do Tribunal de Justiça do Estado agride a consciência
jurídica deste Estado e deste País. É uma aberração jurídica! (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O próximo escrito é o Sr. Valdir
Bronzatto, representante da ACAPA.
O SR. VALDIR BRONZATTO: Sr. Presidente dos trabalhos, demais
Vereadores, caros comerciários, prezados microempresários, médios empresários,
aqui compondo a ala esquerda no nosso sentido, a nossa saudação a todos.
Sentimos aqui o pulsar da pequena economia do Estado, colocando as sua posições
de desagrado e de vida diante justamente do Plenário, que tem, por essência,
tratar das questões locais já configuradas em lei há bastante tempo. O fundo
primeiro da questão é de ordem econômica; é um açambarcamento de mercado.
Tivemos oportunidade, há seis anos, aqui, de ocupar a Tribuna Popular, trazer a
preocupação pela concentração econômica dos grandes empreendimentos que estão
feudalizando a Cidade. Tivemos rapidamente o apoio do Ver. Dib, quando se
levantou essa questão, através da sua Bancada. Assim que nós puxamos aquele
passado, para que nós coloquemos a questão em dia, mostremos como está
desenhada a questão econômica e a questão social, essa ruptura entre o
econômico e o social, a menos valia ao trabalho, que não engrandece o mercado.
Nunca tivemos, a não ser nos tempos da escravidão, uma situação tão deplorável
no atendimento e nas questões humanas quanto agora, justamente quando estamos
alçando um período democrático. Assim o fundo econômico é unicamente a
concentração dos grandes empreendimentos que feudalizam a Cidade e que
subordinam as pessoas até no seu nome comercial. No Iguatemi não tem loja
Iguatemi; no Praia de Belas não tem uma loja Praia de Belas; eles simplesmente
intermediam o processo financeiro imobiliário. É mais um metido no meio da
distribuição, encarecendo evidentemente os produtos. Para isso, sacrifica-se o
preço do trabalho. O preço do trabalho é o único que tem molejamento para baixo
aqui, porque o preço do capital não está sendo suportando, nem em caráter
pessoal, nem em caráter regional, nem nacional e nem mundial pelos povos hoje
contorcidos pela miséria, porque a guerra é profundamente econômica. É guerra
econômica para matar de fome por falta de mercado, reduzindo o mercado; essa
pobreza que nós assistimos aí. O mercado rico se espelha na saúde das pessoas,
ali, na rua. Saímos daqui e sentimos a miséria do mercado interno, pessoas
desnutridas que estão por aí. Sinceramente falta espírito cívico, falta um
desligamento com o neoliberalismo, isso que já está caindo, o sistema monetário
internacional, sacrificador dos povos na Argentina rica e aqui querendo fazer
ajoelhar o Brasil, o que não acontecerá.
Nós,
com o exemplo desta Câmara, temos que sair dessa prisão de caráter econômico,
sem medo das bombinhas do Sr. Bush; o Sr. Bush está dando fortalecimento,
guarida para quem toma posições antibrasileiras e antinacionais.
O
trabalhador do comércio, como todo o trabalhador, é um sacrificado, e por isso
nós não temos um mercado interno, uma vergonha para um país tão rico quanto
este. Aos trabalhadores o nosso aperto de mão. Porque um balconista, uma
balconista deve entender até de psicologia para atender as pessoas; não é um
autômato, é pessoa que deve trabalhar sempre com a cabeça para atender às
pessoas, e querem nos impingir auto-atendimento de contato direto do humano com
a mercadoria, vendo preços, etc., fazendo o trabalho. Nós trabalhamos com as mãos,
os funcionários trabalham também com o coração. Essa é a verdade.
Quero
aqui protestar contra o que nós estamos assistindo em termos de entendimento
jurídico, isso não está na linha dos grandes juristas brasileiros o que está
acontecendo, e muito menos o quadro da situação social; estão no
enclausuramento das pessoas que decidem grandemente neste País. Não conhecem a
vida que está lá fora nos pequenos, micro empresários e minimercados; eles
sabem bem o pulsar das pessoas, estão vendendo no caderno como nós vendíamos em
outros tempos, com o caderno que a pessoa leva para casa e traz depois para
fazer a conta, porque entre os menores, entre os mais pobres existe uma coisa
que se chama moral, uma coisa suprema que é responsabilidade de pagar, e são os
melhores pagadores que existem - justamente os pequenos consumidores.
Queremos
enaltecer aqui, aqueles que levantam a sua voz e bradam contra o que está
acontecendo. O Brasil não merece isso aí, nós já passamos da escravidão, da
escravidão que bateu no couro das pessoas, e agora estão batendo na barriga e
no coração das pessoas. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Ver. Sebastião Melo está com a
palavra.
O SR. SEBASTIÃO MELO: Prezado Presidente em exercício colega
Carlos Alberto Garcia, colegas Vereadoras, Vereadores, senhores, senhoras
comerciárias, pequenos e médios comerciantes representando as entidades, aqui,
Esther e tantos outros representando os nossos sindicatos de pequenas e médias
empresas. Eu acho que esta Audiência Pública na verdade ela vem num desenrolar
de um processo, esta Casa sempre teve como tema recorrente essa questão do
comércio aos domingos. Eu quero lembrar que logo ali atrás teve-se uma
audiência com o Tribunal de Justiça, onde vários Vereadores participaram dessa
audiência e essas mesmas entidades, numa longa reunião, produziram um documento
e pediram esta Audiência Pública, então acho que nós estamos avançando, Ver.
Estilac, acho que nós temos algumas... Poderíamos até, disse aqui o Ver. João
Dib... Uma Comissão Especial, mas existem atitudes sendo tomadas que eu acho
que são importantes.
Eu
quero, neste pequeno espaço de tempo, destacar três questões. É evidente, Dr.
Bronzatto, que há um aspecto econômico, que eu acho que é o eixo desta questão,
há um aspecto social, Zabaleta, que é um outro aspecto que tem que ser
analisado, e há um aspecto sócio-cultural e comportamental que também produz
esta mudança. Nós vivemos num País magnífico, extraordinário mas de uma
concentração de renda monumental, portanto, o que faz crescer a capacidade de
compra não é alargar os dias da compra, mas é mudar esta matriz de um salário
miserável e do desemprego fantástico, portanto, não é estender a venda por mais
um dia que eu vou mudar a questão das vendas no País, de jeito nenhum. Eu
poderia colocar noite e dia com esse salário, que o poder de compra do cidadão
trabalhador vai continuar a mesma coisa.
Quem
defende a abertura do comércio, e eu respeito porque na democracia temos de
respeitar os contraditórios, diz o seguinte: que ela está esteada
fundamentalmente para dar emprego. Mas o que justifica a caminhada não são os
discursos, são as práticas. Eu gostaria que aqueles que defendem essa posição
pudessem nos convencer de que efetivamente isso acontece. Porque eu vejo o
contrário. Essa concentração econômica, ela poderá até fazer com que o shopping abra, uma, duas, dez, quinze
vagas. Mas eu vou pegar o caso de Porto Alegre: são oito mil pontos comerciais
passando pela Azenha, pela Wenceslau chegando ao Sarandi e ao Campo da Tuca,
com centenas de mercadinhos, com centenas de fruteiras, com centenas de
microempresas - que é aquela que dá o grande emprego neste País. Se, por um
lado, eu vou ter alguns empregos no shopping
center, vou ter algumas dezenas
de desempregos nessas localidades. Então, eu não estou convencido de que essa
tese tenha validade.
Portanto,
a nossa defesa, que não é de hoje, vem de antes da eleição, porque sou Vereador
de primeiro mandato, sempre fui firme e esta esteada em duas questões básicas:
na defesa inarredável do direito do trabalhador comerciário, que é um
trabalhador que merece o descanso aos domingos, sim, mas também a nossa defesa
não é menor para centenas de milhares de pequenos negócios que sobrevivem na
semana e no final de semana vendem um pouquinho mais para poder pagar o cheque
pré-datado. (Palmas). Os senhores sabem que o dia em que o grande abre, e fui
advogado de alguma centena dos pequenos, o dia em que o grande abre, baixa 50%,
40%, 30%; mas que baixa, baixa.
Portanto,
o tempo é curto para poder discorrer. Sempre respeito as decisões e, quando não
concordo, recorro, mas acho que há uma questão que tem um fundo que precisa ser
revisto. Acho que dar título, nomes de ruas, e tantas outras coisas são
atribuições que pode o Legislativo continuar fazendo, mas o fulcro do
Legislativo - seja municipal, estadual ou federal - não são esses atributos, e
aquilo que é de interesse local a Constituição já resolveu, no seu artigo 30 e
seguintes, aquilo que é de interesse local, quem tem que legislar é legislador
local, porque se não fosse assim... Gramado tem uma situação, Ceará tem outra,
Goiás tem outra e, portanto, tem que se analisar caso a caso. O que vale para o
comércio do Rio Grande, pode não valer para o Ceará, pode não valer para
Curitiba. Portanto, esta Casa tem o dever de retomar e colocar nos eixos.
Precisamos ter uma atitude firme e que esta Audiência sirva de alavancagem para
que possamos avançar. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, desde o
primeiro ano que entrei nesta Casa o tema da liberdade do comércio é uma
presente nos debates desta Casa. Os mais antigos são testemunhas de que
projetos diversos já passaram por aqui. Certamente, alguns Vereadores,
apologistas do atraso, numa visão conservadora de sociedade fechada, gostariam
de ver o comércio fechado nos sábados à tarde.
Vejam,
sábado à tarde, hoje, é o dia mais movimentado do comércio e Porto Alegre, se
pretende ser a Capital do MERCOSUL, tem na atividade do comércio a sua vocação
maior.
Nós
sabemos das dificuldades em relação ao pequeno comércio, em relação ao grande
comércio. Agora, nem o Sr. Zabaleta, nem o apóstolo do petismo que se encontra
aqui, que preside a Junta Comercial fez um movimento para condenar, muitas
vezes, algum protecionismo em construção de obras na cidade de Porto Alegre, de
grandes estruturas empresariais que são essas mesmas que o senhor diz que são
sufocadas pela grande estrutura comercial. Por que não se discutiu nesta Casa
quando se implantaram os grandes complexos do Carrefour, onde estavam essas
pessoas para debater? Mas no silêncio, na admissibilidade desse Governo que
assumiu há quatorze anos e que faz o jogo dos empresários. Faz o jogo do
empresário do comércio, faz o jogo dos empresários do transporte coletivo,
depois da malfadada intervenção no transporte coletivo. Hoje, a relação é de
harmonia entre o transporte coletivo e a Administração de Porto Alegre. A mesma
coisa em relação à construção. Alguma voz já se levantou? Ao que me lembre, a
do Ver. João Dib, no sentido de proteger.
Aqui,
esta Casa, presta, quase que diariamente, homenagem a essas grandes estruturas,
a esses grandes complexos empresariais, aliás, alguns, com muita justiça, mas
eu posso dizer porque reconheço a importância do vigor dessa estrutura de
empresários nacionais que estão aqui e que construíram a riqueza fruto da
geração do seu trabalho, da sua competência e do seu talento, e que alguns
outros empresários não tiveram.
(Tumulto
nas galerias.)
E
que tem que se encrustrar na estrutura da burocracia da máquina pública para
sobreviver, porque são incapazes de...
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Ver. Isaac, por gentileza, todos os
manifestantes da tribuna têm o livre arbítrio de dizer aquilo que quiserem.
Solicitamos que as galerias permaneçam nas suas posições de respeito, aceitando
ou não, mas temos um orador na tribuna.
O SR. ISAAC AINHORN: Ah, Ver. Garcia, eu vejo aqui e parece
que foi o meu colega Ver. Nereu DAvila, que até que é um homem experiente no
processo Legislativo, que foi ingênuo, porque foi o que mais pressionou para
transformar, para fazer essa Audiência Pública, bem-intencionado é verdade, nem
candidato é, mas o que está acontecendo aqui é uma passarela eleitoral do
Partido dos Trabalhadores e do PC do B, que estão usando esta Casa, às véspera
do processo eleitoral.
Eu
quero discutir se é a abertura do comércio e nós temos que respeitar, decisão
se acata e se respeita, V. Ex.ª que é acadêmico de Direito Vereador, e quando
discordamos dela, recorremos. Eu quero dizer, eu estranho os ataques,
insinuações que já foram feitas em relação à Justiça gaúcha. É lamentável, é
lamentável. Agora, eu quero ver, eu quero discutir se realmente houve geração
de emprego ou não houve. Aí eu gostaria de ouvir, não discurso retórico, de
tribuna.
(Aparte
anti-regimental do Sr. Pedro Aurélio
Zabaleta)
Eu
lhe ouvi quieto. O senhor me ouça quieto, o senhor respeite a estrutura desta
Casa.
(Manifestação
nas galerias.)
Agora,
para encerrar, Sr. Presidente, eu lamento que aquela senhora...
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Por gentileza, insisto, paramos o tempo
para que o orador possa fazer a sua conclusão.
O SR. ISAAC AINHORN: Eu só gostaria de encerrar, porque
ninguém está querendo atacar problemas fundamentais da defesa do direito dos
trabalhadores e das discriminações de que são vítimas, a exemplo do caso que
relatou essa senhora aqui, Dona Esther Machado, Presidente do Sindicato dos
Comerciários, por quem eu tenho o maior respeito.
(Manifestação
nas galerias.)
Isso
não é democracia. isso não é democracia. Se quiserem virar de costas para mim,
pouca bola eu estou dando, eu sou um Vereador que tem cinco mandatos em Porto
Alegre, orgulho-me disso.
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia):
Vereador, seu tempo está
esgotado.
O SR. ISAAC AINHORN: Eu vou concluir desde que haja silêncio,
Vereador. Eu só gostaria de dizer a essa senhora, é importante aqui o
depoimento de vítimas de desrespeito, o que foi feito contra ela é crime contra
a organização do trabalho lá nessa loja que ela citou, na Av. Voluntários da
Pátria. Eu gostaria que essa senhora, assistida pelo Sindicato dos
Comerciários, se dirigisse à Comissão de Justiça desta Casa para preparar uma
representação no Ministério Público Federal por crime contra a organização do
trabalho e cassação do alvará dessa loja, porque isso o Ver. Estilac Xavier não
vai fazer, ele não vai cassar alvará.
Eu
vou ler o art. 150 da Lei Orgânica do Município de Porto Alegre: Sofrerão
penalidades de multa até a cassação do alvará de instalação e funcionamento, os
estabelecimentos de pessoas físicas e jurídicas que, no território do
Município, praticarem atos de discriminação de qualquer espécie.
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia):
Obrigado, Vereador.
O SR. ISAAC AINHORN: Não, Vereador. Eu sou o único que estou
defendendo a liberdade do comércio nesta tribuna, nesta tarde e nesta Audiência
Pública. A Presidente do SINDEC falou vinte minutos e V. Ex.ª não me assegura o
direito sagrado de concluir o meu pronunciamento!
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia):
Vereador, V. Ex.ª está
defendendo, mas como todos, o tempo foi igual.
O SR. ISAAC AINHORN: Não é verdade.
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia):
É verdade, sim.
O SR. ISAAC AINHORN: Eu desafio V. Ex.ª, pegue as notas
taquigráficas e consulte os tempos.
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia):
Então pode consultar,
Vereador.
O SR. ISAAC AINHORN: V. Ex.ª vai ver. Eu desafio. Eu só quero
concluir, Sr. Presidente, dizendo que sou integrante da Comissão de
Constituição e Justiça e quero ver os dois Vereadores do PT condenarem esse
cidadão e recomendarem a cassação do alvará por ter praticado esse abuso contra
essa senhora.
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia):
Obrigado, Ver. Isaac. O Sr. Paulo Vargas e Silva da Unisuper
- União Gaúcha de Supermercados Limitada está com a palavra.
O SR. PAULO VARGAS E SILVA: Bem, Senhores, estou aqui falando em nome
da UNISUPER, que é uma Associação de pequenos e médios supermercadistas. Temos
feito um trabalho grande no sentido de fomentar o pequeno e o médio
comerciante.
Muitas
pessoas aqui falaram com muita propriedade, algumas se exaltaram e outras
disseram algumas bobagens.
Nós
empregamos, hoje, setecentos e cinqüenta funcionários diretos e somos trinta
empresas com quarenta lojas. Somos pequenos, faturamos 88 milhões por ano.
Quando falo pequeno, falo com relação a esses grandes grupos como o Carrefour,
que fatura 86 bilhões de dólares e que, sozinho, fatura mais do que todos os
supermercados do Brasil inteiro. Quando vejo alguns empresários, que se acham
grandes e que falam em nome dos grandes, eu não consigo entender suas visões de
empreendimento. Eles estão olhando para a ponta do nariz.
Nesse
período em que as lojas grandes abriram, os pequenos comerciantes já perderam
50% de suas vendas aos domingos e perderam algo em torno de 10 a 15% das vendas
do mês. Hoje somos uma empresa que emprega setecentos e cinqüenta funcionários;
se continuarmos com esse processo, em pouco tempo, não empregaremos mais. O que
estamos fazendo? Somos a única rede que está dentro da CEASA, comprando dos
pequenos e médios produtores. Como disse o nosso fornecedor da CLAJU, somos a única
rede que compra, hoje, de atacadistas e de pequenos e médios fornecedores. As
empresas grandes não os aceitam, não lhes dão oportunidade, porque eles não têm
infra-estrutura. Nós, quando compramos dos pequenos, muitas vezes,
administramos a ineficiência deles, porque temos critério e temos uma ética:
queremos trabalhar com os pequenos, pois é desta forma que vamos conseguir
sobreviver.
Temos,
em Porto Alegre, um estudo, feito pela Secretaria da Agricultura e
Abastecimento, do custo da cesta básica. Todos sabem que a cesta básica em
Porto Alegre é a mais cara do Brasil, e nós, há seis meses consecutivos, temos
a cesta básica mais barata de Porto Alegre. Algum de vocês viu alguma notícia
nesse sentido na mídia? Não saiu. Nós cobramos isso da mídia, porque também
somos anunciantes, mas muito pouco com relação a essas grandes redes. Além
disso, com a condição do alto índice de concentração do varejo vocês devem
saber que 95% do varejo de Porto Alegre está na mão de três empresas, sobrando
5% para trezentas pequenas empresas -, nós, com vinte e nove empresas e
quarenta lojas, conseguimos ter, há seis meses consecutivos, a cesta básica
mais barata de Porto Alegre. Isso mostra a força do pequeno quando associado,
quando faz um trabalho sério.
Nós
somos o povo. O povo é a voz de Deus. E apenas estamos trabalhando numa disputa
política versus poder econômico, porque os grandes não estão aqui hoje fazendo
uso da palavra nesta Casa, não se estão preocupando com o que a Casa possa
decidir. E aí senhores, eu peço humildemente aos nossos Ex.mos
Vereadores que façam uso de seu poder político para que a gente possa ter
liberdade e possa prosseguir trabalhando. Nós temos empresas hoje com trinta
anos, que estão à beira da falência, fora as que já faliram e que estão em processo
de insolvência.
Eu
gostaria, mais uma vez, de agradecer a iniciativa do Pedro, pela grande força;
ele trabalha muito em cima disso. Entendo que o Sr. Bronzatto também foi o
precursor deste trabalho, independente de posição político-partidária. Somos
empresários e estamos aqui solicitando à Casa que faça uso de seu poder
político e nos dê esse retorno. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia):
O Ver. Estilac Xavier
está com a palavra.
O SR. ESTILAC XAVIER: Sr. Presidente; Sr. Pedro Zabaleta, Sr.ª
Esther, Presidente do Sindicato dos Comerciários; público presente, Srs.
Vereadores, o Ver. Carrion lamentava que o Sr. Marconato, do SINDILOJAS; o
representante do CDL; o Sr. João Carlos de Oliveira, da AGAS, não vieram aqui
na representação democrática da cidade de Porto Alegre, da Câmara, expor seu
ponto de vista a respeito da abertura ou não do comércio aos domingos. Mas o
Ver. Carrion não havia assistido ainda ao pronunciamento do Ver. Isaac Ainhorn.
E eu quero dizer, Ver. Carrion, que o Ver. Isaac Ainhorn, representou essa
posição aqui. Estava aqui representada, sim, a posição do CDL, do SINDILOJAS e
da AGAS. Em vez de o Vereador vir aqui sustentar por que durante todo tempo
defendeu a abertura do comércio, sob a idéia de que quem não fazia era
atrasado, porque impedia a liberdade, e porque isso aumentava emprego, gerava
renda, resolveu desviar-se do assunto e atacar os presentes e a Bancada do
Partido dos Trabalhadores. Lamento que ele não esteja aqui para ouvir. Foi isso
que pedi a ele naquela hora: fique para me ouvir. Mas ele resolveu ir para
outra seara.
Ele
tem que explicar aqui a desfaçatez desta manchete, que diz: Vamos terminar com
esta pífia gratificação dominical, vales-extra, vales-transporte, dito pela
AGAS na semana passada. Substituíram o discurso. Antes era cinco mil empregos,
turismo, liberdade de comércio. Liberdade de comércio para quem? Quando, no
mesmo jornal, dias depois, o mesmo cidadão vem e diz: Vamos transferir a renda
que é auferida nos açougues, nos armazéns e nos pequenos mercados para os
supermercados e hipermercados. Nenhuma palavra, porque o fundamento da sua
posição, que era a liberdade de comércio, a riqueza, maior emprego, caiu, ruiu,
resolveu atacar o Partido dos Trabalhadores. Aliás, um ataque solerte porque,
diga-se de passagem, o transporte coletivo de Porto Alegre é o maior e o melhor
do Estado, e o melhor do Brasil. Quando entramos na Administração, Sr.
Presidente, o transporte era sucatado, e a Administração que entregava era a do
Ver. Isaac Ainhorn, do seu líder Alceu Collares. E que se repetiu quatro vezes
aqui, pela vontade democrática do povo de Porto Alegre, goste ele ou não goste.
Mas ele não disse uma palavra a respeito das prejudicais medidas que foram
adotadas quando abriram o comércio aos domingos. Não são só os comerciários que
estão afetados no seu direito de descanso, nos prêmios extras quando negociam.
É toda uma rede de abastecimento que envolve a Cidade, que leva alimentação e
serviços a qualquer ponto de bairro.
Estive
caminhando por esta Cidade por vários dias, e vejo lá na lista - escrevi até
neste novo jornal, e parabenizo a sua edição, O Armazém - que não é só o pessoal do comércio, encontrei
borracharias, funilarias, autopeças, lojas de serviços, cabeleireiro, salão de
beleza, despachantes, farmácias, fruteiras, açougues, restaurantes,
distribuidores, armazéns, que, aparentemente, nada têm a ver com a questão do
comércio, todos contra, e todos com uma única concepção: isso é concentração de
renda para os ricos, para os que têm. Quero dizer mais: não nos enganemos na
nossa luta; aqui, na verdade, a luta é contra as multinacionais que são as
âncoras dos shopping, que nos seus
países não conseguem ter a liberdade de comércio que defende o Ver. Isaac
Ainhorn, meu nobre colega. O Carrefour é acusado de cárcere privado, e lá na
França não consegue fazer o que faz aqui. Diga-se de passagem, é de autoria de
um Vereador desta Casa chamado João Motta, da minha Bancada, que criou aqui uma
Lei que limita os empreendimentos a 1.500 m2. É ou não é Ver. João
Dib? E foi votada por esta Casa. Portanto, as insinuações feitas pelo Ver.
Isaac Ainhorn de protecionismo dos grandes, na verdade é que, quando se trata
com clareza, com transparência, nós adquirimos respeito, nós temos respeito
pelos empresários que querem produzir, como temos respeito pelos trabalhadores,
mesmo que tenham contrariedades com as nossas posições políticas. Por isso eu
não podia deixar de me manifestar para dizer que o que está em jogo é a
economia da nossa Cidade, a sobrevivência do emprego, da renda e da
distribuição. Isso é democrático. Por isso que nós sustentamos as nossas
opiniões. Lamento que o Ver. Isaac não tenha ficado no debate. Muito obrigado.
(Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Sr. Mauro Pinheiro da Associação dos
Minimercados está com a palavra.
O SR. MAURO PINHEIRO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, demais
presentes, fomos acusados pelo Vereador que já não se encontra mais de que nós
nunca estivemos nesta Casa. É que realmente nós nunca nos preocupamos em vir
aqui para buscar os nossos direitos, porque nós estávamos lá atrás de um
balcão, atendendo as pessoas da comunidade, mas, agora que vimos que temos a
necessidade de vir aqui para dentro desta Casa, tenho certeza de que a partir
de hoje nós vamos estar sempre aqui presentes, buscando os nossos direitos e os
defender.
O
que tem acontecido a cada dia que passa é que os nossos mercados estão cada vez
mais vazios por esses neoliberais que liberaram o Carrefour, o Sonae, que estão
vindo lá dos países deles para buscar as nossas divisas, tirando os empregos e
quebrando os pequenos comerciantes. É isso que está acontecendo. Quero ver
depois, quando todos nós estivermos fechados, como vão ficar os preços dentro
do Sonae e do Carrefour, monopolizando toda a economia.
Eu
também gostaria de saber se vai ser votada uma lei para abrirem as creches e as
escolas, pois onde vamos deixar nossos filhos, quando estivermos lá trabalhando
nos domingos? (Palmas.) Gostaria de perguntar ao Vereador que colocou se ele
vai criar uma lei para abrir essas escolas e as creches, porque onde vão
ficar...? Nós queremos saber isso dele, pena que ele não se encontra mais aqui.
Também
das ameaças que sofremos ali, de que nós não temos imunidade para vir falar do
Doutor que deu essa Liminar: Vocês não têm imunidade, cuidem o que falam!
Então, nós já estamos até sendo ameaçados!
Nós
não estamos aqui para brigar por nada disso, nós só queremos o nosso direito de
trabalhar, o nosso direito de lutar pela nossa existência, porque, se continuar
assim, em pouco tempo, nós estaremos engrossando as filas dos desempregados nas
segundas-feiras, procurando emprego nas multinacionais, porque não vamos mais
estar no nosso bairro. Muito obrigado a todos. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Ver. Nereu DAvila está com a palavra.
O SR. NEREU DAVILA: Sr. Presidente, Sr. Pedro Zabaleta da
Nova Azenha, senhoras e senhores que nos honram com suas presenças aqui,
comerciantes ou comerciários, inicio dizendo que tenho tanto respeito pelo o
que está sendo objeto desta Audiência Pública, aliás, idéia nossa de uma
reunião restrita e, portanto, fruto da nossa concepção que, em respeito ao tema,
eu não vou adentrar na briga política que o Ver. Isaac e o Ver. Estilac
acabaram concedendo.
Só quero responder, em
nome da verdade, quando o Ver. Estilac disse que recebeu sucateada a frota de
Porto Alegre em 1989, Ver. Dib, V. Ex.ª que foi Prefeito - pena que a televisão
não mostra, porque é muito importante que, à noite, o nosso povo fique
esclarecido sobre o que nós dizemos aqui -, mas eu quero dizer aos
porto-alegrenses que - de 1985 a 1988 foi Prefeito o Sr. Alceu Collares -, em
novembro de 1989, esta Casa, contra o meu voto, está nos Anais da Casa, na
história da Câmara, aprovou a minirreforma para o Prefeito Olívio Dutra, que
encheu as burras da Prefeitura de dinheiro, e que a Constituição de 88 fez uma
nova redistribuição tributária no País em que os Municípios se abarrotaram de
dinheiro. E com dinheiro é fácil governar e fazer frota boa ou não. Então, não
vou entrar nessa briga, em respeito a V. S.ªs, é um problema do PT e
do PDT.
Agora,
nesta luta aqui - o Ver. Isaac tem todo o direito de ter a posição dele
alguns Vereadores do PDT, entre os quais eu, assumo franca e caracterizadamente
a posição a favor dos fracos, dos comerciários, dos trabalhadores!
Existe
uma tese aí, comprada pela grande mídia, que é muito fácil de vender. Se
perguntarem para qualquer pessoa aí na rua se quer ver todo o comércio aberto,
inclusive à noite, vão dizer que sim! Têm aqueles que não dormem, que têm
insônia, caminham às 3h ou 4h da madrugada, que gostariam de ter um bar para
ir, ou beber, ou conversar ou comprar alguma madrugada. É bom, então, quanto
mais estiver aberto, melhor! Então, não é esse argumento falacioso. O argumento
real que nós temos que discutir é o argumento econômico! Quando foi aberto
aquele supermercado, lá perto do Obirici, todos os pequenos mercados, os
pequenos comércios do entorno tiveram que fechar, absorvidos pelo grande
supermercado. Esta é a lei da vida! Quanto menos deixar aberto, menos funciona
aqueles que vendem aos domingos, aos familiares, ou que vendem uma carne lá na
vila para o churrasquinho e tal. Ah, claro! Falou-se aqui no Carrefour. O
Carrefour, como é uma rede internacional, pode, durante três meses, vender
muito abaixo dos preços, porque a rede internacional vai cobrir aquilo ali,
diminuir, fazer com que o povo todo vá comprar mais barato lá, em detrimento
daquele que está com o mercadinho lá, que tem que vender por um pouco mais para
ter um pequeno lucro do que ele comprou! É muito diferente, é muito diferente o
forte do fraco! Então, a grande discussão é de vontade política e econômica.
Por que a Azenha, por que o Zabaleta, por que aquela senhora, aqui, da
Tristeza, por que a Cristóvão Colombo, por que a Assis Brasil, o comércio de
rua está contrário à abertura indiscriminada? Mas por que será, meu Deus? Será
porque é bonito? Não, é porque estão tendo prejuízo e esses dão emprego, muito
emprego, sim, esses pequenos e médios empresários!
Então,
a discussão fundamental é esta: é econômica! A outra é política. Mas, por que o
que estava dando certo, que todo Brasil elogiava, o ano passado foram abertos
emdoze domingos anteriores às datas que se vende. Tanto isso é verdade, que eu
fui pessoalmente, posso citar a loja, não vou citar, porque não vem ao caso,
mas eu poderia citar, porque eu estive em um dos shopping, e os donos das lojas me disseram: Eu fui obrigado a
abrir, eu não queria abrir. E mais, Nereu, se eu vendo domingo um pouco mais,
na segunda-feira e na terça-feira eu não vendo. São elas por elas. Com
prejuízo dos trabalhadores. Só que existe um detalhe, entre elas por elas, é o
mar e o rochedo, o marisco é que é atingido, ou o comerciário, porque ele tem
que trabalhar, deixar a sua família e não estão pagando, com essa decisão da
justiça, os 25, 26 reais, que era o que se pagava para trabalhar domingo.
Então, é uma questão que não é simplória, não, nem tão simples como querem que
seja. É de fundo sim.
Eu
concluo dizendo o seguinte: o projeto que nós apresentamos foi em parceria com
o Sindicato dos Comerciários. O que defendo é o que ocorreu no ano passado, ou
seja, quando abriram doze domingos, o Sindicato não estava em dissenso, ao
contrário, concordaria que se abrisse até mais um ou dois. Só com um pequeno
detalhe: pague-se o que vinha se pagando, porque ninguém é obrigado a deixar a
família domingo, não ser pago e ser colocado no olho da rua. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Sr. Luís Fernando Missel, da
Associação dos Minimercados, está com a palavra.
O SR. LUÍS FERNANDO MISSEL: Boa-tarde a todos aqui presentes, também
ao pessoal da área de vendas. Eu já tive um pequeno comércio, tive que fechar,
hoje sou vendedor. E pelo que eu compreendo, e tanto na rua como aqui foi dito,
que teriam que ir para rua, o que o povo aceita, o que o povo quer ver. Quero
dizer o seguinte: aqui dentro, quem veio aqui hoje eu muito conheço, quem está
aqui dentro é povo. Não precisa sair para a rua para ver como está o povo. E os
Vereadores presentes.
E
mesmo que para sustentar a economia da nossa Cidade e de todo o Brasil, nós
temos de ter regras. O cara que está lá fora, cheio de dinheiro e vem para cá
atuar, ele tem de ter regras, ele não pode abrir no domingo, ele não pode
tratar isso aqui como o pátio da casa dele e fazer o que ele bem entender,
apenas captar lucro e mandar para o exterior, para as suas matrizes. Eu não sou
contra a multinacional, a multinacional pode estar aqui mas com regras. Por que
ela tem de atuar como ela quer? Poderes ocultos, influenciando políticos,
influenciando juristas, seriam poderes ocultos? Que poderes são esses? E quem
elege os políticos, estejam aqui ou não, ou mesmo em nível de Assembléia
Estadual ou em nível federal somos nós. Nós temos de aprender a ver quem
defende o povo, quem realmente defende a Pátria, o nosso chão. Isso aqui tem
dono e não só Porto Alegre e Rio Grande do Sul, todo o Brasil tem dono. O dono
é o povo brasileiro. Temos uma Nação, um Estado que tem de ser respeitado. Para
que essas manifestações a favor do grande? O grande que nós falamos - tem o
grande com capital nacional que também deve ter o espaço dele. Vamos regrá-lo?
O cara que vem do exterior, com toda a sua potência e toda a sua força também
tem de ser regrado e muito bem regrado. Ele tem de aprender a entrar neste
território e saber que dentro de um
território existem regras para serem respeitadas e que a gente vê, de
muitos anos para cá, o que acontece? Não existe regra para quem entra no
Brasil, por que? São forças ocultas? Mas quando vamos começar a falar dessas
forças ocultas? O porquê de eles não terem regras? Por que não podem respeitar?
Não estão presentes, foram eleitos por este povo que está aqui hoje. E o que
representam essas multinacionais atuando em todo o Brasil, sem regra nenhuma, é
o que nós estamos vendo hoje: pobreza, pequeno fechando, pequeno comércio
familiar, onde a tua família vai fechar, que é a base de qualquer economia,
seja na educação, seja na saúde e a questão de violência surge quando não há o
abraço da família. Se a família não vai bem, a sociedade não vai bem. A base
fundamental de qualquer sociedade é a família. E se nós destruirmos o pequeno
comércio familiar, não vai sobrar nada. Por que não pode ter legislação sobre
isso, simplesmente entra, pega o nosso dinheiro e vai embora?! E quem aprova
isso? No meu conceito, como cidadão, não é quem trabalha a favor de uma
multinacional, sem regra, só interessando aos lucros deles. Eu não considero
como cidadão brasileiro; eu considero como uma pessoa apenas procurando algum
interesse, que eu não sei o por quê. Tem de haver algum interesse todo e
nacional de nossa Pátria, tem de defender os valores familiares de todo o nosso
território. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia):
Prezado Sr. Pedro
Aurélio Zabaleta, Presidente da Associação Empresarial Nova Azenha, prezada
Presidenta do Sindicato dos Comerciários, Esther Machado, Srs. Vereadores,
demais pessoas participantes dessa Audiência.
Procuramos
ser o mais democrático possível, ouvindo todas as versões possíveis, porque
essa tribuna é uma tribuna democrática. O acervo que foi aqui dito vai ser
juntado a esse processo de Audiência Pública e ficará à disposição dos senhores
e das senhoras. Cada um dos senhores têm o seu julgamento e esta Casa, dentro
de alguns dias, fará o seu julgamento dentro de um processo que está aqui.
O SR. JOÃO ANTONIO DIB: Sr. Presidente, apenas desejaria fazer um
registro de que iniciamos a Audiência com a presença de dezesseis Vereadores,
restaram apenas quatro.
O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia):
Vereador, seu registro
está anotado, mas é uma Casa democrática.
Encerramos
esse ato desejando a cada um dos senhores e senhoras um bom retorno aos seus
lares. Estão encerrados os trabalhos.
(Encerra-se
a Audiência às 16h40min.)
* * * * *